4 de dezembro de 2009


Foto: MIK

Quero sentar na pedra a observar o horizonte
Fatiguei das minhas variações
Quero a resposta do mar obliquo
Contorcido
Rebentar
Perdoar a vida que de mim fez tortura
Sorrisos fáceis e ligeiros
Abandonados
Afagos
Nem sei mais, em um instante me absorvo, pedra
Louca encantando ondas, que me dizem?
Salvem a alma fiel desta tortura, me ponha em riste!
Tirem me do conflito eterno entre o ser e o estar
Devolvam o alimento de minha vida
Decifrem minha essência
Diga meu mar,
Como posso pousar neste deserto infindo?


É isso ai...

2 de novembro de 2009

Colheita

Foto: MIK

Quando minha horta der frutos
Colherei com olhos calejados e enrugados pelo tempo de sol
Primavera, já muitas passadas
Caminhos adubados e inférteis
Colherei frutos maduros e amargos
carregados de histórias doces, suculentas no tempo certo

Quando minha horta der frutos, semearei a próxima estação
E pacientemente regarei na audácia de minha esperança
O tempo contado por homens modernos
esperarei do novo/velho tempo de colheita
Algo diferente no ar

Marlene

4 de outubro de 2009

Respirar- ar

É incrível a solidão
Ao mesmo tempo que nos afoga, alivia-nos
Nos faz coisas remotas... tão perto
Morta como um suave perfume de vida
Baila, baila meu ar pelo mundo
Prata no céu leve a brincar de nuvens

Marlene

Debaixo D Água
Arnaldo Antunes
Debaixo d'água tudo era mais bonitoMais azul, mais coloridoSó faltava respirarMas tinha que respirar
Debaixo d'água se formando como um fetoSereno, confortável, amado, completoSem chão, sem teto, sem contato com o arMas tinha que respirarTodo diaTodo dia, todo diaTodo diaTodo dia, todo dia
Debaixo d'água por encanto sem sorriso e sem prantoSem lamento e sem saber o quantoEsse momento poderia durarMas tinha que respirar
Debaixo d'água ficaria para sempre, ficaria contenteLonge de toda gente, para sempre no fundo do marMas tinha que respirarTodo diaTodo dia, todo diatodo diaTodo dia, todo dia
Debaixo d'água, protegido, salvo, fora de perigoAliviado, sem perdão e sem pecadoSem fome, sem frio, sem medo, sem vontade de voltarMas tinha que respirar
Debaixo d'água tudo era mais bonitoMais azul, mais coloridoSó faltava respirarMas tinha que respirarTodo dia
Agora que agora é nuncaAgora posso recuarAgora sinto minha tumbaAgora o peito a retumbarAgora a última respostaAgora quartos de hospitaisAgora abrem uma portaAgora não se chora maisAgora a chuva evaporaAgora ainda não choveuAgora tenho mais memóriaAgora tenho o que foi meuAgora passa a paisagemAgora não me despediAgora compro uma passagemAgora ainda estou aquiAgora sinto muita sedeAgora já é madrugadaAgora diante da paredeAgora falta uma palavraAgora o vento no cabeloAgora toda minha roupaAgora volta pro noveloAgora a língua em minha bocaAgora meu avô já viveAgora meu filho nasceuAgora o filho que não tiveAgora a criança sou euAgora sinto um gosto doceAgora vejo a cor azulAgora a mão de quem me trouxeAgora é só meu corpo nuAgora eu nasco lá de foraAgora minha mãe é o arAgora eu vivo na barrigaAgora eu brigo pra voltarAgoraAgoraAgora

26 de setembro de 2009

Foto: Paulo Madeira
Hoje sairei de preto colorido
A procura do palhaço
Que espreita meu amor desarticulado
Numa espessa linha negra
Brilho de luz obscuro, contornando linhas de lábios...cinzas
Sairei, sem sandálias de prata, apenas de tênis apertados em laços
E passos
Sem lantejoulas ou qualquer outro brilho, procuro o brilho.

Não beijarei pés e nem darei os pés a serem beijados
Procuro palavras que em leve sutileza, formam sentidos
Hoje sairei de preto colorido.

7 de agosto de 2009

Transito
Entre o normal e a loucura
Entre a bondade e a crueldade
A agonia e a perfeição
Sou mole carne
O diabo pousa em meu ombro
Dizem que no esquerdo
Meu omoplata torto

Perco o tesão
Nãosei, não sei
Encantamento, desencantamento
Poço fundo
Suja água que não lava o corpo

Somos crianças pálidas e amedrontadas
Perdoe-me a existência
A contradição

Transito
Entre não sei o que e o que não sei

3 de agosto de 2009

Dormiremos agora
Num grande e profundo sono
Nem as luzes automobilísticas em tal velocidade irão nos acordar
Dormiremos
Nem o ar poluído vibrando freneticamente em nossas narinas
Dormiremos

Minha alma anda nua pelas ruas

Dormiremos
Os corpos estendidos a descansar
Calçadas impuras e fétidas
Dormiremos

Minha alma anda nua pelas ruas

Dormiremos ontem
Apodrecidos do cansaço dialógico de palavras que zumbem no ar
Dormiremos
Tão longos em corpos frios
Perfeitamente esticados
Dormiremos, desmanchados

4 de julho de 2009

"Eu tinha o vôo,mas cortaram minhas asas. Perdi."
Juan Rulfo

23 de junho de 2009

Sucessão -CLARICE

“Sonhadores, eles passaram a sofrer sonhadores, era heróico suportar. Calados quanto ao entrevisto por cada um, discordando quanto à hora mais conveniente de jantar, um servindo de sacrifício para o outro, amor é sacrifício.
Assim chegamos ao dia em que, há muito tragada pelo sonho, a mulher, tendo dado uma mordida numa maçã, sentiu quebrar-se um dente da frente. Com a maçã ainda na mão e olhando-se perto demais no espelho do banheiro – e deste modo perdendo de todo a perspectiva – viu uma cara pálida, de meia-idade, com um dente quebrado, e os próprios olhos... tocando o fundo, e com a água já pelo pescoço, com cinqüenta e tantos anos, sem um bilhete, em vez de ir ao dentista, jogou-se pela janela do apartamento, pessoa pela qual tanta gratidão se poderia sentir, reserva militar e sustentáculo de nossa desobediência...”.

Lispector

13 de junho de 2009










Foto: von Ben Goossens


Agora é tarde!
Um vazio habita meu ser e meu grito silencioso
Não pode ser ouvido pelos caminhos por onde passo.
Tive um sonho...
Nele; não conseguia abrir os olhos, não via as faces
Sentia os lugares, ouvia as vozes, mas não via as faces
Quero sair,
Tenho medo
medo que me olhem
que percebam que existo...
Já penso no revólver sem balas...
Quero luz, mas não posso abrir meus olhos
O revólver grita silencioso
A tarde nas faces, fases - outono
Não sei...Alice não veio
O gato morreu, meu livro não quer abrir
Já estão mortas as linhas a serem escritas
Grito – Ouve – Silêncio
Alice – Morta – Teus pés
Quero vida, que não sei se existe
Tão forte que quebra o último suspiro
Feito de claras apodrecidas
Quero vida, teus pés – Cristo os lavou
Tenho a cruz, o revólver no armário-ar...
Ar-ar-ar-ar-ar......................


Marlene
13/06/09

6 de junho de 2009

Foto: Google
Vou fazer um café...
Passar a tarde desligada na TV
Pra ver se me ligo no tempo
Salvar a dor da li
Marlene

24 de maio de 2009

Preciso de algo,
Não sei, não sei...
talvez o coelho de Alice.....................
...........................................................
ou apenas uma cerveja


Marlene

16 de maio de 2009

Fome que come o ar, não respira guardando o último suspiro
Para a sofreguidão...
Frio que humilha corpos des(acalentados)
Aquecendo o bolso de bem poucos
Insistem em nus, jogarem corpos humanos no desumano trono da vida
Como reis calcificados pela desordem que ordena a pequenos
- vestes nobres de tal grife
Orgia de pura seda que pela fresta olham apavorados aos que lhes sustentam
O luxo acumulado de lixo
Com perspicácia dos ídolos messiânicos
Justificando meu frio, minha fome, da redoma salutar de um divino


Tão pobre gravidez apodrecida no ar...

Marlene 16/05/09

8 de maio de 2009

Minhas linhas já estão escritas
O ponto não transmutou
pisei em falso ouro pra quê?
Se é todo o grande vazio, VAZIO...

6 de maio de 2009

E Cheiro...

Foto: Marlene I.Kuhnen

Compilo folhas transparentes
Meu ser transborda na luz que gira olfativamente neste próprio ser
As rosas redondas na crescente espiral da vida
Germinação, pétalas formando o botão maduro
Em mim e de mim
Sou assim, respiro o botão
De verde que lança espinhos
Em-talo de caule verde-douro
Pequeninos salientes agudos a ti revestem
e brotam rigidamente junto a rosa
da terra que de mim foi recheada...
Marlene I.Kuhnen

26 de abril de 2009

Talvez um livro de tragédias curtas
Mas tão extenso em seus caminhos
A cor bruta de um sonho – pode acorrentar
Pés descalços e machucados
Sangue que verte em um universo transbordado de aguardente
Cala em minha figura
Um colorido só para retocar a alma
Lá, onde simples gestos de alongamento muscular
Não tocam
Não sei por que não tem som agora...

m.i.k
26/04/09




"...A chuva nunca para de cantarA chuva nunca para de descer
E a chuva (chuva)Com o seu sonho de água vem acesa
Pra lavar o que passou..."
cordel do fogo encantado

4 de abril de 2009

Sem inspiração para respirar
Fungo...

29 de março de 2009

Jasmim dos poetas

Qual flor me tem em cheiro ...
Exalo o odor puro de cristais paradoxos...
Que cheiro te escrever?
São tantas as palavras, que me foge a exata linha sonora
Dessas cordas que tocam há tanto
Secas... velozes, um puro aço que transborda o deserto
De areia tão fina que cegam
Molhadas, os cristais de meus olhos cansados
E tremidos...

Amarelo,

14 de março de 2009

Dia da Poesia(não Tem Título

Foto: Eunice


Comeste um olho primeiro
Veio depois, o frio cintilante a borrar minha sombra
Partida, rachada com cacos pontiagudos na dessincronia
Correta da veste brotando num fio leve de terra
Penugens microscópicas surgem ao longe
No primeiro olho comido!

Marlene 14/11/09

8 de março de 2009

Doideira

Foto: grENDel

Gozo deleites suburbanos da madrugada tragada em gestos insólitos de palavras intraduzíveis em um mundo sem sílabas ou pontos eternos da mística humana Nada são senão simples frases mal traduzidas dos gestos ignóbeis de mim Que sonho sem fim Não uso pontos nem sinais ortográficos corriqueiros na comunicação que jaz a relação "normal" de um ser anormal ou perfeitamente ocioso na sua defesa anti o trabalho valorizado por um grupo estabelecido de besta há séculos na defesa das luzes clareadoras do absolutismo

Preciso pular um quadrado para ver se chego na minha lucidez ótica de um plural abastecido de frases sem nexo com nexo dos dias que são ditos de noite sem lua e avião no céu ou no raso pensamento de uma transformação da idade que não resolveu proveu a dor infinita da adolescente desconexa de um tempo contido no espaço transfigurado de pele e olhos precisos de uma música na qual não comporto/a na cabeça explodida, usei sinal transformei o código de- pressa transformou-se no lerdo toque no teclado Estado obtuso da realeza virtual que me comunico com o mundo de forma silenciosa
Agora foi um espaço entre a linha primeira que pulei no tempo corrido cronologicamente depois de cromos que escorreu na cadeira foi tomada de uma preguiça minimalista
Marlene Kuhnen - Um Dia Desses

25 de fevereiro de 2009

Estou assim, meio que encantada e feliz, explico:
A editora Sandra Veroneze , descobrindo meus poemas, convidou-me a fazer parte da revista gaúcha Cadernos Literários . Alegria por estar lá? também, mas mais ainda por ter sido convidada; ter minhas linhas lidas, apreciadas e valorizadas.
A contemplação de uma criação é bebida sorvida, escapulindo um leve gole pelos lábios...

Foto: Marlene Inês Kuhnen

20 de fevereiro de 2009


Calor noturno com tempero
De brisa perfumada
Largo sorriso encoberto
Pela noite quente fresca

Fresca sombra estampada de luzes corredeiras
Água límpida escorrendo por pedras frias iluminadas
Pela latente claridade de bolhas pequeninas
Cintilantes

Dor? Distante sentimento
De tão longe engano, vibrante
Ai que descolo uma coceira no pescoço
(suspiro)

e uma lágrima, quase invisível
me vem no instante exato
que o olhar de supertramp cruzou o do cervo...

para os introspectivos
Marlene 20/02/09

Foto: Paula ªLopes

14 de fevereiro de 2009

Navegantes!
Ao mar em desafio ao imaginário
De Belém ao Seguro Porto
Trovoadas marinhas
Mortes!
Indo e vindo em turvas ondas
Tal qual o medo escondido por entre
Gengivas desafiando a morte pelo simples desconhecido
Imagens fulgurantes de dantes sonhada
Sonda por entre homens apertados e cansados
Ansiosos pela nova terra


Ecoa pelos atentos ouvidos
Leve vento a crescer assustadoramente
Como uivos marinhos
Alto, tombadas para lá, para cá
Bailando ao mar sem nada, horizontes desacossados
Palmas, vibrantes a crueldade consumindo almas errantes
E bradas de aventura - Homens gloriosos pelo sonho
Viajantes de espada de aço num fio de aço ancorado no coração
Gargantas turbulentas e lentas, secas...
Um gole raspando a corrente que encontra
O rasgo fio apavorante; corrente tênue de líquido

Ah, que me ponho a sonhar...
Com frios homens bravios – prazenteiros
Rarefeitos



Marlene-14/02/09
Foto: S`Agaro

1 de fevereiro de 2009

Meu tempo passou
Já não brotei
Fico a catar sentimentos
Por dentro

A roda mudou
Andamos em sentido desfigurado
Ponteiros atrasados/adiantados
Rápidos

Meninos brincam de bola e boneca
Meninas se enfeitam ainda ansiosas
Espelhos quebrados empoeirados
En-fi-lei-ra-dos

Brotos encharcados
Amigos estranhos
Cem/sem

Comum anestesia
Para olhos feridos ...

24 de janeiro de 2009

Composição ou (Caminhos)



Fotos: Marlene I.Kuhnen

22 de janeiro de 2009


Foto: Marlene Inês Kuhnen
(Talvez ossos)


Cospe em um pedaço de pano cinza
Faz da veste as franjas acumuladas do limpo algodão
Tem um rio que faz parte de seu franzido
Comeu a maçã em tão branco lençol de nuvens
Que verde ficou o seu hálito macio


Uma pele calva de leite amadurecido
Pelo sol, cintila...
Que bento momento bebido no cálice amaldiçoado
Gramas de sabor escorrem pela leveza do ar

Ossos contornados pela pele
Envergados do tempo
Maior...

Marlene 21/01/09

8 de janeiro de 2009

Abraço

Foto: Google

Vou abraçar sim
Vou abraçar a todas as árvores do mundo
Vou abraçar o mar e penetrar a todas as criaturas
Marinhas,
seus mitos de bravura e seu esgotamento
Salgado
Darei-me a luz da noite e para a areia do mar
Afogada em praia seca, repleta de conchinhas sem vida
Que agora, enfeitam pescoços de meninas boas
Vou abraçar sim, meus encantos entorpecidos pelas mentiras da verdade
Minhas mágicas linhas mortas
Sagacidade, obviedade e outras vaidades tolas da cegueira
Vou abraçar meu encanto torto de pequenos olhos
Nem choram mais, meu jeito estremecido e envelhecido
Vou abraçar um pequeno canto de pássaro que ousa na janela
Magnitude de carnes expostas,
Meu velho seio ancorado
Vou abraçar a grande criatura em forma de polvo
Vou para o mar; infinita beleza de águas, tanto faz se azul ou verde
(poderá ser cinza também)
Vou abraçar as pequenas ondas bravias de seca tangente
Diáspora do mar
Vida marinha, encontro sereia... viro estrela

Marlene 08/01/09