25 de junho de 2020

Foto: Marlene Inês Kuhnen


Um quadro na parede...vazio...Na parede de um quadro!

26 de março de 2010

De Sal



Foto: Paulo de Souza



Que de porto em porto
Pouso meu silêncio
Lascivo

Canto junto a sereias abandonadas
Pelo medo do desconhecido

Franjo meu passado no infinito...
Sem voz
Rouca, salinada!

E os passos que dantes
Marcavam a areia
Apagam as pisadas
De corpos entediados
Em domicílio

Marlene
26/03/10

4 de dezembro de 2009


Foto: MIK

Quero sentar na pedra a observar o horizonte
Fatiguei das minhas variações
Quero a resposta do mar obliquo
Contorcido
Rebentar
Perdoar a vida que de mim fez tortura
Sorrisos fáceis e ligeiros
Abandonados
Afagos
Nem sei mais, em um instante me absorvo, pedra
Louca encantando ondas, que me dizem?
Salvem a alma fiel desta tortura, me ponha em riste!
Tirem me do conflito eterno entre o ser e o estar
Devolvam o alimento de minha vida
Decifrem minha essência
Diga meu mar,
Como posso pousar neste deserto infindo?


É isso ai...

2 de novembro de 2009

Colheita

Foto: MIK

Quando minha horta der frutos
Colherei com olhos calejados e enrugados pelo tempo de sol
Primavera, já muitas passadas
Caminhos adubados e inférteis
Colherei frutos maduros e amargos
carregados de histórias doces, suculentas no tempo certo

Quando minha horta der frutos, semearei a próxima estação
E pacientemente regarei na audácia de minha esperança
O tempo contado por homens modernos
esperarei do novo/velho tempo de colheita
Algo diferente no ar

Marlene

4 de outubro de 2009

Respirar- ar

É incrível a solidão
Ao mesmo tempo que nos afoga, alivia-nos
Nos faz coisas remotas... tão perto
Morta como um suave perfume de vida
Baila, baila meu ar pelo mundo
Prata no céu leve a brincar de nuvens

Marlene

Debaixo D Água
Arnaldo Antunes
Debaixo d'água tudo era mais bonitoMais azul, mais coloridoSó faltava respirarMas tinha que respirar
Debaixo d'água se formando como um fetoSereno, confortável, amado, completoSem chão, sem teto, sem contato com o arMas tinha que respirarTodo diaTodo dia, todo diaTodo diaTodo dia, todo dia
Debaixo d'água por encanto sem sorriso e sem prantoSem lamento e sem saber o quantoEsse momento poderia durarMas tinha que respirar
Debaixo d'água ficaria para sempre, ficaria contenteLonge de toda gente, para sempre no fundo do marMas tinha que respirarTodo diaTodo dia, todo diatodo diaTodo dia, todo dia
Debaixo d'água, protegido, salvo, fora de perigoAliviado, sem perdão e sem pecadoSem fome, sem frio, sem medo, sem vontade de voltarMas tinha que respirar
Debaixo d'água tudo era mais bonitoMais azul, mais coloridoSó faltava respirarMas tinha que respirarTodo dia
Agora que agora é nuncaAgora posso recuarAgora sinto minha tumbaAgora o peito a retumbarAgora a última respostaAgora quartos de hospitaisAgora abrem uma portaAgora não se chora maisAgora a chuva evaporaAgora ainda não choveuAgora tenho mais memóriaAgora tenho o que foi meuAgora passa a paisagemAgora não me despediAgora compro uma passagemAgora ainda estou aquiAgora sinto muita sedeAgora já é madrugadaAgora diante da paredeAgora falta uma palavraAgora o vento no cabeloAgora toda minha roupaAgora volta pro noveloAgora a língua em minha bocaAgora meu avô já viveAgora meu filho nasceuAgora o filho que não tiveAgora a criança sou euAgora sinto um gosto doceAgora vejo a cor azulAgora a mão de quem me trouxeAgora é só meu corpo nuAgora eu nasco lá de foraAgora minha mãe é o arAgora eu vivo na barrigaAgora eu brigo pra voltarAgoraAgoraAgora

26 de setembro de 2009

Foto: Paulo Madeira
Hoje sairei de preto colorido
A procura do palhaço
Que espreita meu amor desarticulado
Numa espessa linha negra
Brilho de luz obscuro, contornando linhas de lábios...cinzas
Sairei, sem sandálias de prata, apenas de tênis apertados em laços
E passos
Sem lantejoulas ou qualquer outro brilho, procuro o brilho.

Não beijarei pés e nem darei os pés a serem beijados
Procuro palavras que em leve sutileza, formam sentidos
Hoje sairei de preto colorido.

7 de agosto de 2009

Transito
Entre o normal e a loucura
Entre a bondade e a crueldade
A agonia e a perfeição
Sou mole carne
O diabo pousa em meu ombro
Dizem que no esquerdo
Meu omoplata torto

Perco o tesão
Nãosei, não sei
Encantamento, desencantamento
Poço fundo
Suja água que não lava o corpo

Somos crianças pálidas e amedrontadas
Perdoe-me a existência
A contradição

Transito
Entre não sei o que e o que não sei

3 de agosto de 2009

Dormiremos agora
Num grande e profundo sono
Nem as luzes automobilísticas em tal velocidade irão nos acordar
Dormiremos
Nem o ar poluído vibrando freneticamente em nossas narinas
Dormiremos

Minha alma anda nua pelas ruas

Dormiremos
Os corpos estendidos a descansar
Calçadas impuras e fétidas
Dormiremos

Minha alma anda nua pelas ruas

Dormiremos ontem
Apodrecidos do cansaço dialógico de palavras que zumbem no ar
Dormiremos
Tão longos em corpos frios
Perfeitamente esticados
Dormiremos, desmanchados

4 de julho de 2009

"Eu tinha o vôo,mas cortaram minhas asas. Perdi."
Juan Rulfo

23 de junho de 2009

Sucessão -CLARICE

“Sonhadores, eles passaram a sofrer sonhadores, era heróico suportar. Calados quanto ao entrevisto por cada um, discordando quanto à hora mais conveniente de jantar, um servindo de sacrifício para o outro, amor é sacrifício.
Assim chegamos ao dia em que, há muito tragada pelo sonho, a mulher, tendo dado uma mordida numa maçã, sentiu quebrar-se um dente da frente. Com a maçã ainda na mão e olhando-se perto demais no espelho do banheiro – e deste modo perdendo de todo a perspectiva – viu uma cara pálida, de meia-idade, com um dente quebrado, e os próprios olhos... tocando o fundo, e com a água já pelo pescoço, com cinqüenta e tantos anos, sem um bilhete, em vez de ir ao dentista, jogou-se pela janela do apartamento, pessoa pela qual tanta gratidão se poderia sentir, reserva militar e sustentáculo de nossa desobediência...”.

Lispector

13 de junho de 2009










Foto: von Ben Goossens


Agora é tarde!
Um vazio habita meu ser e meu grito silencioso
Não pode ser ouvido pelos caminhos por onde passo.
Tive um sonho...
Nele; não conseguia abrir os olhos, não via as faces
Sentia os lugares, ouvia as vozes, mas não via as faces
Quero sair,
Tenho medo
medo que me olhem
que percebam que existo...
Já penso no revólver sem balas...
Quero luz, mas não posso abrir meus olhos
O revólver grita silencioso
A tarde nas faces, fases - outono
Não sei...Alice não veio
O gato morreu, meu livro não quer abrir
Já estão mortas as linhas a serem escritas
Grito – Ouve – Silêncio
Alice – Morta – Teus pés
Quero vida, que não sei se existe
Tão forte que quebra o último suspiro
Feito de claras apodrecidas
Quero vida, teus pés – Cristo os lavou
Tenho a cruz, o revólver no armário-ar...
Ar-ar-ar-ar-ar......................


Marlene
13/06/09

6 de junho de 2009

Foto: Google
Vou fazer um café...
Passar a tarde desligada na TV
Pra ver se me ligo no tempo
Salvar a dor da li
Marlene